terça-feira, 10 de maio de 2016

A gaveta, os cofres e os armários [...]



"Nunca a imaginação pode dizer que é só isso. Sempre há mais que isso..." (Gaston Bachelard)

 
Aberto,
é o que está escrito.
Mas a entrada,
quase não se vê.
Não é que seja ver nada,
mas apenas perder-se na imensidão que se revela do lado de fora.
Hesitei dar os primeiros passos e de repente,
voltar já não era mais uma escolha.
Sinto a pulsação,
Que o surpreender-se aconteça.
Às vezes ponho-me a imaginar:
o que terá sido?
Talvez a luz.
Não, foi a penumbra!
A sensação daquele frio de repente a pousar,
aquelas coisas que não se vê, mas se sente.
A presença é sempre incomparável!
E se perde o espaço,
encontra-se o tempo.
E mesmo gigante,
você pode tornar-se pequeno novamente ao entrar.
A chave gira,
solta o silêncio,
aprisiona o tempo
e liberta o espaço:
grande,
pequeno,
comprimido,
contínuo,
até que se interrompa...
Medo,
encanto
espanto,
sensações flutuantes.
Imagens,
imagináveis,
imaginários,
ou objetos ao avesso, acumulados,
desordenados,
fragmentados,
entre ranhuras e pó.
O cheiro,
a cor e
a (de)forma.
E como a memória
apaga e grava,
recria,
inventa,
esconde e revela,
se esvai
e permanece.
A porta bate, espaço e tempo se misturam
já não se sabe mais,
será o chão,
ou o teto?


Adriana Amaral
A gaveta, os cofres e os armários [...]

Fotografias da série Alegorias de Alice, 2012.
Ensaio fotográfico dos objetos da loja de antiguidades Bonsucesso na rua Rêgo Freitas, centro de São Paulo
Técnica: fotografia digital, Impressão colorida | dimensões variáveis
Sobre a Artista
Adriana Amaral é artista visual e professora de artes na EMIA, seus trabalhos partem da sua relação afetiva e poética com os espaços visíveis e invisíveis percorridos pela cidade criando imagens e imaginários. Além da fotografia também explora o vídeo, a gravura, o desenho e outras configurações multimídia.

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